Não se sabe ao certo, em que época a música virou profissão, mas com certeza, foi muito tempo antes do nascimento da chamada indústria fonográfica. Até metade século do passado, no mundo, e até quase os anos 80 no Brasil, ter uma vitrola e discos em casa era artigo de luxo, como um home theater hoje em dia. Artístas como Beatles, Elvis, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Creedence, Black Sabbath, Roberto Carlos, Os tropicalistas, e antes Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro... não precisaram vender milhares de cópias para se tornarem extremamente populares e fazerem seus nomes na história da música.
Pagamos caro e felizes para ver shows nossos artistas ao vivo, como se paga caro para se ter um quadro em casa, pois o show é, e sempre foi, como uma obra de arte única pois a performace é sempre única, e a experiência de estar ali, mais única e pessoal ainda.
Quando Michael Jackson lançou o disco mais vendido de todos os tempos, foi justamente no primeiro “boom” da popularização dos discos, mas mesmo aonde seu disco não chegou, sua música foi conhecida através do meio ao qual todos os artistas importantes da história da música moderna ficaram conhecidos: o rádio. Este veículo que, ao menos para os ouvintes, a música vem livre, sem ônus, e foi este meio o responsável pelo sucesso desses artistas, lotando seus shows e fazendo com que os fãs comprassem seus discos. Isto é, o disco não vende o artista, mas sim, sua música tocada por outros, seus shows, as rádios, é que vendem os discos. Isto mostra o quanto essa industria é tão somente um produto, um material que interessa muito mais aos empresários que lucram com isso, do que ao artista, que na verdade, sobrevive de seus shows. Claro, o disco ainda é o meio o qual o fã pode guardar a obra, tê-la de maneira plena, com letras, ficha técnica, fotos, etc...
A internet, depois do formato mp3, tornou-se o meio ideal para divulgação da música pelo simples fato de eliminar os dois principais problemas das rádios: falta de opções (pois se limita apenas a artistas conhecidos, e a questão de pedir música por telefone ser bem limitada, exigindo tempo, paciência e sorte), e o jabá, que limita o que ouvimos aos artistas com gravadoras, contatos, empresários e etc, obrigando os ainda desconhecidos a ralar muito, na noite, no boca a boca, nos pequenos eventos, até conseguir algum tipo de “costas-quentes” que os leve para as rádios (salvo poucas exceções em que o público leva o artista à rádio). O meio digital permite que tenhamos total liberdade de escolha e uma infinita gama de alternativas para ouvir. O compartilhamento de músicas na internet nos permite a:
- como público, participar da divulgação das nossas músicas preferidas, com amigos, redes de relacionamento, etc;
- conhecer, antes de decidir se tal disco é uma obra a qual queremos comprar;
- ouvir nossas músicas preferidas mesmo que ainda não tenhamos condições financeiras de dar R$ 30,00 em certos cds para enriquecer gravadoras;
- ouvir nossas mp3´s nos players, pc´s de casa, do trabalho, sem ter que carregar nossos cds por aí;
- e principalmente, artistas renomados ou independentes, divulgarem seus trabalhos 24h por dia, para qualquer lugar do mundo, sem nenhum custo.
Contra todas essas vantagens que a internet nos oferece, é ridícula a luta para evitar a tal “pirataria” pois, muitos artistas como Leoni, Leo Jaime, Ritchie, Zélia Duncan... já perceberam, como mostra o manifesto Música Para Baixar, que o fã que baixa música não é pirata, é divulgador.
Tal qual telegrafista, ferreiro, cocheiro, a indústria fonográfica se não estiver no fim, está numa mudança radical e inevitável. Um exemplo recente disto foi no final dos anos 90, onde muita gente montou escolas de informática básica e depois fechou porque hoje as crianças já nascem com PC em casa. Ao menos uma coisa é certa: lucrar rios de dinheiro com cds é algo do passado, meios de comunicação se limitando aos quem tem jabá pra aparecer também.