quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sumiço de Belchior


Deu no Fantástico: Belchior sumiu. Para os mais novos, que não o conhecem das canções, ou sabem das canções, mas não sabem que são dele: Belchior, o cantor-compositor cearense sumiu. Aquele que dizia ser um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior. Dizem que apareceu num show de Tom Zé, ainda este ano, mas, depois, não foi mais visto. Há dois anos, a ex-mulher não tem notícias, dois carros seus estão abandonados ou, pelo menos, estacionados sem que ninguém os reclame. Deixou dívidas. Eu nem vi a matéria na TV, peguei na página do portal Terra e pensei: Belchior já tinha sumido de nós há mais tempo. Não se falava dele nos jornais, na Internet, no que se chama a grande mídia. Precisou sumir pra que se falasse dele. Até parece história das presentes em suas letras, "feito aquela gente honesta, boa e comovida/ que caminha para a morte/ pensando em vencer na vida". Provavelmente, vão dizer que foi uma vítima do Sistema, será feito um documentário, e aparecerão os doutos dizendo que ele era um gênio incompreendido. Talvez elucidem o mistério, talvez não. Talvez a razão do sumiço seja bem prosaica, distante do nosso entendimento. No entanto, suas canções, bem maior de um compositor, estão vivas e presentes na memória dos brasileiros que o ouviram cantar, e viam aquele hippie de vasto bigode, lirismo triste e combativo, e versos incomuns. Se alguém, de repente, começa a cantarolar "não quero lhe falar, meu grande amor/ das coisas que aprendi nos discos/ quero lhe contar como vivi/ e o que aconteceu comigo...", é impossível não se lembrar da interpretação de Elis Regina, e de como aquela gravação se tornou um standard da música brasileira. As cantoras que vieram bem depois de Elis, como Daniela Mercury, gostam de cantá-la pra chegar perto do modelo de cantora que é Elis. Tanto que há uma historinha que diz que Sandy, em uma data familiar, escolheu cantar, em homenagem aos pais, Como nossos pais, que é o título desta canção de Belchior. Imagino Sandy se dando conta do que diz a letra da música, no momento mesmo em que está cantando: "minha dor é perceber que apesar de termos feitos tudo que fizemos/ ainda somos os mesmos e vivemos/como nossos pais". A música de Belchior é a notícia mesmo de que o sonho havia acabado, contrapondo-se inteligentemente à alegria tropicalista: "nada é divino, nada é maravilhoso/ ao vivo é muito pior". Há uma urgência em seus versos, e na sua interpretação angustiada, sanguínea, sensual, quase falada: "quando eu cantar/ quero ficar molhado de suor/ e, por favor, não vá pensar que é só a luz do refletor". E há - por que não? - uma nostalgia como no subtítulo de Mucuripe, "jovem também sente saudade". A sessão de cinema das cinco, a camisa toda suja de batom. E uma canção alegre, Medo de avião, releitura de I wanna hold your hand, dos Beatles, e que ganhou uma outra melodia de Gilberto Gil, também bonita. Estou lembrando dos versos e ouvindo as canções aqui na minha rádio-cabeça, aos pedaços, e tendo bem presente os instantes em que, adolescente, ficava fascinado por um verso que dizia "eu quero é que este canto torto feito faca corte a carne de vocês". Há uns cinco anos, vi Belchior cantando essa música no programa Altas horas, junto com o Los Hermanos. Das canções cujas letras ganham versões maliciosas e populares tem aquela que diz "aí um analista me comeu", em vez de "aí um analista amigo meu", que é a letra original. É engraçado, e não é pouco. Caymmi uma vez disse que seu sonho era ser um autor de algo que se perdesse no meio do povo. Aconteceu com ele, e, de certa maneira, com Belchior. Esse texto não é e nem pretende ser um necrológio, pois não se sabe se Belchior morreu. Ele só sumiu, ou sumiu só. Mas eu sei onde ele anda: em suas canções imorredouras, vivas, presentes e, ainda e sempre, urgentes. Além, no Corcovado, quem abre os braços, é Belchior. Copacabana, o mar, as borboletas pousando entre as flores do asfalto, são Belchior, talvez cansado de nós, repousado de nós, infinito de nós.
Paquito
De Salvador (BA)
Quinta, 27 de agosto de 2009, 08h2
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Faço minhas as palavras desse bahiano.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Missão Cumprida


Sexta passada, dia 21, estive presente num evento promovido por metaleiros, para metaleiros, somente com bandas de metal, onde ocorreu uma homenagear João do Pífe com direito a troféu, e uma JAM fazendo uma versão pesada da feira de caruaru, e como se fosse pouca coisa tal iniciativa, o público aceitou aquilo com uma naturalidade que em dado momento pareciam homenagear um ilustre representante da cena roqueira. A idéia de unir cultura regional com o rock não é novidade desde o tropicalismo e de artistas como Alceu Valença, Novos Baianos, Tom Zé, e mais recentemente, Chico Science. Porém, há 11 anos atrás, quando nasceu o Sangue de Barro, com proposta de rock realmente pesado em fusão direta com algo visto como oposto, a música da banda de pífanos, e tendo como única referência na época, uma banda que era entendida como bagunça despretensiosa (Raimundos) e um movimento que estava no auge da moda pela morte de seu mentor (o Mangue Beat) fomos vistos com extremo preconceito pelos puristas locais, os ditos jovens politizados, e pelo movimento underground local, isto é, nossa idéia incomodava os dois extremos. Um lado nos achava oportunistas e o outro um verdadeiro sacrilégio ao "deus metal". No meio de tudo isso, a única intenção era assumir nossa identidade e fazer a música que estávamos afim, sem estar presos a rótulos importados ou a uma idéia mais comercial para pegar carona no casco do caranguejo science. Em particular, eu não queria que as pessoas saíssem fazendo fusões como nós fazíamos, mas simplesmente, influenciá-las a romper o preconceito sem sentido que separava apreciadores de diferentes estilos de boa música. Sempre que podíamos, tentávamos juntar numa mesma festa, bandas de rock mais tradicional, com bandas regionais. Tenho vídeos onde tocamos junto com a banda de pífanos e João do Pífe em 1998, no Auto do Moura, em 2003, no lançamento do nosso CD, onde eles foram a banda de abertura, fora tantas outras ocasiões. Apesar da gratificante aceitação do público a essa idéia, sempre me senti um pouco frustrado, pois nosso público já esperava aquilo, enquanto no underground ainda havia muita gente com radicalismo sem sentido sendo poucos representantes do movimento em nossa platéia, e do outro lado, muita gente que cheguei a admirar como pessoas cultas ainda não conseguia entender nossa intenção. Perdi a conta de quanta abobrinha foi dita "por trás" enquanto juntávamos cada vez mais pessoas que entendiam que boa música nunca precisou de rótulo. Depois de 11 anos de batalha, e justamente agora, quando me despeço do cargo de integrante do Sangue de Barro, finalmente presenciei este evento, que mesmo sendo ainda pequeno, é gigante em significado. Nem preciso falar o quanto os organizadores e as bandas presentes no I Agosto do Rock em Caruaru estão de parabéns. Minha sensação, ao fazer parte dessa tão importante evolução, foi a de missão cumprida.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Não foi dessa vez.


Se fosse dar nota pela iniciativa seria 10, mas pelo resultado, infelizmente ainda não foi dessa vez. A Livraria Estudantil, como já disse, resolveu abrir um Café/livraria, porém, o resultado ficou longe do que eu imaginava. O grande problema foi na parte interna, pois, ao entrar, tive a impressão de estar no lugar errado ou que não li a fachada corretamente. Parece uma daquelas lojas de grife da avenida, tudo branco, claro demais, nada aconchegante, e pra piorar precisei olhar mais atentamente para encontrar as duas únicas e tímidas mesas ao fundo, perto do balcão.
Ainda sim, tomei coragem e fui sentar. Pedi um café que, por sinal, recomendo. Chama-se mocho, e seu único defeito é ser pequeno comparado ao preço, mas vale a pena experimentar.
Como se a iluminação e decoração do lugar já não pusessem tudo a perder, percebi o maior erro: além da livraria, lá também encontra-se no mesmo espaço, uma papelaria, isto mesmo, você toma café longe dos livros e rodeado de lapiseiras, cadernos e canetas, fora a parte de informática. Houve momentos em que pensei estar tomando café dentro da VIP Informática.
A surpresa ficou para depois que terminei o café. A gentil garçonete me mostrou o segundo espaço do lugar, chamado “beco da estudantil”, um corredor lateral onde se encontravam mais mesas, estas sim, a meia luz, num clima aconchegante, porém, sem nenhum livro por perto, além de escondidas, do público e sem visão para lugar nenhum além das paredes.
Espero sinceramente, que se corrijam esses erros, pois a intenção é maravilhosa e como já falei, a tempos esperamos por um lugar com essa proposta.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Música está em todos nós



Música é técnica + sensibilidade, estou me convencendo disso.

(Post do kibeloco, indicado por WelderMM no Twitter)

link original: http://kibeloco.com.br/kibeloco/2009/08/03/paaaaaaaaaa/

domingo, 2 de agosto de 2009

Anjos de Demônios - mais uma vez clichê


Em dado momento, personagem principal fala de um papa que arrancou os órgão genitais das estátuas do vaticano, fato que ficou conhecido como “a grande castração”. Este é o melhor termo para definir tudo o que o filme é em comparação ao livro. Sei que é clichê falar que o livro é melhor, mas esse se supera. O filme é de uma imensa falta de bom senso e linguagem cinematográfica, tornando Anjo de Demônios uma decepção. Das pessoas com quem conversei sobre o livro, todas adoram o inicio, tudo que o livro conta sobre o CERN, ciência x religião, anti-matéria, etc... O filme corta tudo sem pena, a anti-matéria serve apenas, como Hitchcock chamava, de “MacGuffin”, isto é, o motivo para a trama se desenvolver, mal é citado o fato desta ser a partícula de Deus, sendo algo tão bobo que uma bomba poderosa qualquer daria conta do recado. Um dos personagens mais intrigantes do livro, o diretor do CERN, nem aparece! No final, onde seu personagem faz parte de uma cena crucial com o chefe da guarda da suíça e o carmelengo, é substituído pelo chefe da guarda e este por um guardinha qualquer. Além de incontáveis mudanças desagradáveis em todo o enredo, cenas que marcam no livro e nem aparecem... personagens que perdem a importância... detalhes omitidos e mal contados, ainda há no filme vários momentos em que a péssima direção de Ron Howard grita, como cenas de ação sem nenhuma tensão, cenas de grandiosidade passando tão rápido que nem conseguimos notar a importância de todo aquele acontecimento no vaticano... enfim, quem leu o livro, e assistir com certeza vai odiar, quem não leu, pode até gostar do filme, mas aconselho a ler o livro depois. E para não dizer que tudo é perdido, o final do filme pra mim foi mais realista, sendo este um dos poucos pontos fracos do livro, onde se Indiana Jones soubesse diria “que mentira!”. Mais uma vez citando o mestre, Hitchcock dizia que não adaptava grandes obras pois como livros já eram uma obra completa, não havia como passa-las para o cinema sem perder coisas que só a literatura conseguia fazer, ou simplesmente faze-las “funcionar” no cinema sem ter que modifica-las drasticamente, por isso, ele apenas pegava argumentos, historias simples que ele notava que poderiam funcionar magnificamente no cinema e as reescrevia. O próprio Dan Brown deveria defender sua obra e evitar tamanha mutilação.