Sexta passada, dia 21, estive presente num evento promovido por metaleiros, para metaleiros, somente com bandas de metal, onde ocorreu uma homenagear João do Pífe com direito a troféu, e uma JAM fazendo uma versão pesada da feira de caruaru, e como se fosse pouca coisa tal iniciativa, o público aceitou aquilo com uma naturalidade que em dado momento pareciam homenagear um ilustre representante da cena roqueira. A idéia de unir cultura regional com o rock não é novidade desde o tropicalismo e de artistas como Alceu Valença, Novos Baianos, Tom Zé, e mais recentemente, Chico Science. Porém, há 11 anos atrás, quando nasceu o Sangue de Barro, com proposta de rock realmente pesado em fusão direta com algo visto como oposto, a música da banda de pífanos, e tendo como única referência na época, uma banda que era entendida como bagunça despretensiosa (Raimundos) e um movimento que estava no auge da moda pela morte de seu mentor (o Mangue Beat) fomos vistos com extremo preconceito pelos puristas locais, os ditos jovens politizados, e pelo movimento underground local, isto é, nossa idéia incomodava os dois extremos. Um lado nos achava oportunistas e o outro um verdadeiro sacrilégio ao "deus metal". No meio de tudo isso, a única intenção era assumir nossa identidade e fazer a música que estávamos afim, sem estar presos a rótulos importados ou a uma idéia mais comercial para pegar carona no casco do caranguejo science. Em particular, eu não queria que as pessoas saíssem fazendo fusões como nós fazíamos, mas simplesmente, influenciá-las a romper o preconceito sem sentido que separava apreciadores de diferentes estilos de boa música. Sempre que podíamos, tentávamos juntar numa mesma festa, bandas de rock mais tradicional, com bandas regionais. Tenho vídeos onde tocamos junto com a banda de pífanos e João do Pífe em 1998, no Auto do Moura, em 2003, no lançamento do nosso CD, onde eles foram a banda de abertura, fora tantas outras ocasiões. Apesar da gratificante aceitação do público a essa idéia, sempre me senti um pouco frustrado, pois nosso público já esperava aquilo, enquanto no underground ainda havia muita gente com radicalismo sem sentido sendo poucos representantes do movimento em nossa platéia, e do outro lado, muita gente que cheguei a admirar como pessoas cultas ainda não conseguia entender nossa intenção. Perdi a conta de quanta abobrinha foi dita "por trás" enquanto juntávamos cada vez mais pessoas que entendiam que boa música nunca precisou de rótulo. Depois de 11 anos de batalha, e justamente agora, quando me despeço do cargo de integrante do Sangue de Barro, finalmente presenciei este evento, que mesmo sendo ainda pequeno, é gigante em significado. Nem preciso falar o quanto os organizadores e as bandas presentes no I Agosto do Rock em Caruaru estão de parabéns. Minha sensação, ao fazer parte dessa tão importante evolução, foi a de missão cumprida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário